SPURWINK - o meu local de trabalho

Chegou a hora de falar sobre o meu trabalho. Para muitos ler este texto poderá ser uma seca, mas para os educadores sociais não será certamente. Aliás, meus caros colegas sugiro vivamente que entrem no site do CNES, actual ANES e vejam o que o programa ILEX tem para oferecer.

Cornville. 15 minutos da minha casa. uma residencia que acolhe 6 crianças com idades compreendidas entre os 6 e os 14 anos.

Cada dia é diferente do outro dia. Por vezes existem casos muitos graves de comportamentos agressivos, outras vezes menos agressivos e outras, inexistencia de comportamentos. Num minuto estou a divertir-me a apanhar sapos com uma criança, no outro ela pode estar a dar-me socos porque não encontra sapos para apanhar. é tudo uma questão de prevenção de comportamentos indesejaveis. Como é que sei que isso irá acontecer? Como devo prodecer? Pois bem, tenho um ano para aprender. O desafio persegue-me e a adrenalina corre-me nas veias. Chego a casa e sinto que fiz algo util, que fiz parte de mais um dia feliz na vida daquela criança com uma história de vida atormentada, sem figuras de referencia, regras ou amor. Deito-me e penso: "Amanhã é mais um desafio. Bora lá à luta!"


Cada caso é um caso.


*AS é um rapaz de 8 anos. Depois de ter agredido violentamente a mãe e a irmã e ter partido todos os móveis da sala, teve que ser acolhido por uma familia. Esta familia não tinha condições para lidar com esta criança e teve de ser acolhida de urgência no Spurwink. Na verdade, este menino sofre de uma perturbação mental nuito profunda, chamada de trissomia 15. O meu senso comum diz-me que, embora condicionado pela sua doença mental, é um menino muito carinhoso mas que não percebe ao certo o que é bom ou mau. Ele bate-me, ele abraça-me.


* JW, uma menina de 12 anos. De caracterização fisica muito magra mas mais inteligente do que algumas pessoas com 20 anos. Na sua curta vida já conheceu cerca de 5 familias de acolhimento. Não consegue lidar com a frustração, pelo que quando não consegue atingir os seus objectivos começa a chorar e a gritar compulsivamente, sendo dificil conter este pequeno ser humano. Por vezes acusa as pessoas de comportamentos ou atitudes que, na verdade, não aconteceram. chegou a acusar o pai de abuso sexual, até agora não se sabe se é verdade ou não. O meu senso comum diz-me que daqui a 3 anos ela sairá ilesa da residencia e poderá constituir familia e ser muito feliz. Até lá, um longo caminho a percorrer, muitos obstaculos por passar, muitas arestas a alimar. Especiamente no que toca a actividades em grupo.


* SW, a tipica pré-adolescente com 13 anos. Possui diversos disturbios mentais, tem comportamentos agressivos para com as outras crianças e com o staff praticamente todos os dias. Tem fases de profundas mudancas de humor, na qual todos os dias cospe, bate e parte narizes ao staff. Depois tem dias calmos, faz as actividades normais para uma adolencente. Gosta de ir as compras, faz-me manicure, fala de rapazes, pergunta-me sobre rapazes.

*JM, o menino de 6 anos que esta constantemente a pedir-me para o por as cavalitas e correr pelo centro. Olhando para ele, e tao carinhoso, ainda nao cresceu um dos dentes da frente, esta sempre a pedir por abracos... Ninguem pode imaginar que este rapaz de 1 metro intruduziu um lapis na vagina de uma menina da sua idade. Porque que esta crianca esta a morar no centro? Possui comportamentos sexuais. Tarefa ardua negar um abraco a este menino ou negar brincar que estamos a luta. Todo o tipo de toque com este rapaz pode ser perigoso, tanto para mim como para ele.

*KC, prestes a deixar o centro por ja ter os seus 14 anos. Sofreu todos os tipos de maus-tratos incluindo abuso sexual, negligencia e posteriormente, abandono. Este menino e deveras agressivo, nem toda a gente consegue trabalhar com ele. Nao pode brincar com as outras criancas porque passados 2 minutos ja esta a gritar e a bater com a cabeca nas paredes. Mais, nao refiro.

*CS, um menino loiro com um sorriso sempre nos labios. No inicio perguntava-me a mim propria o que e que ele estava ali a fazer mas logo me apercebi. Quando fica frustrado ninguem o consegue controlar, sao precisas 3 pessoas do staff e por vezes mais para conseguir agarrar a sua furia. Bate com as maos, pernas, cabeca na parede, parte tudo o que ve, isto e se ve alguma coisa a frente. Outrora sofreu de negligencia, nao tinha pai e a mae deixava-o sozinho vezes sem conta. Sofreu de agressao psicologica. Gosta de apanhar sapos, fazer jardinagem, nadar, aprender sobre animais.


Com um cenario destes, voces dem estar a pensar... porque que esta gaja atura isto? A resposta vai ser dada daqui a um ano.